Compromisso com a vida no Rio Piracicaba

JOSÉ PEDRO MARTINS
 Jornalista e escritor 




Rio Piracicaba
Vieira Junior/ Consórcio PCJ
A melodia soava como um lamento na voz de Zeza Amaral: “Cada rio que morre/ É uma veia que seca é um rumo sem norte/ Viola quebrada, cantador sem estrada, é uma faca sem corte”. Versos de “O Rio”, finalista e segunda colocada na terceira edição do Festival de Música Ecológica, realizado no SESC de Piracicaba, em 1982. 

O Festival de Música Ecológica foi uma das múltipas ações, entre o final da década de 1970 e início da de 1980, que tornaram Piracicaba e região o principal centro de discussões ambientais no Brasil. O ponto central era a defesa do rio, que corta o coração da cidade e cuja agonia era vista a olho nu pela população. 

Dois principais fatores alimentaram o movimento ambientalista em Piracicaba. O primeiro, o Proálcool, a alternativa dos militares para combater a crise do petróleo. De um lado o Programa Nacional do Álcool representou crescimento econômico e abertura das portas tecnológicas que levaram à importância que tem o etanol hoje e, de outro, a ausência de legislação e cuidados pelo segmento na época levaram à degradação da bacia. 

Foto Le Tota/ Sxc.hu
Os resíduos do processamento do álcool eram lançados diretamente nos rios, que a todo momento expunham suas dores, com mortandades de peixes e outras cenas de grande impacto. Depois isso cessou, com a utilização dos resíduos na própria cultura da cana e com avanços da legislação e procedimentos tomados pelo setor sucroalcooleiro. 

A segunda motivação daquele movimento foi o início das operações do Sistema Cantareira, que passou a retirar água da bacia do Piracicaba para abastecer metade da Grande São Paulo. Outra decisão da ditadura, tomada sem consultas à sociedade. 

Estas são as raízes do processo que levou à constituição, em 1989, do Consórcio Intermunicipal das bacias dos Rios Piracicaba e Capivari, e de outras ações que consolidaram a região como espaço de reflexão sobre os destinos das águas. Espaço que contribuiu muito para a elaboração da Lei 9433/97, a Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos, que representou grande reviravolta na gestão das águas no Brasil. 

Uma das conseqüências da mobilização regional e formulação do marco legal foi o avanço no tratamento de esgotos domésticos, depositados nos rios pelas cidades. O índice de tratamento, de menos de 5% no final da década de 1980, hoje já é próximo de 50% na bacia. 

Duas novas leis contribuem para cenário ainda mais promissor para a proteção das águas. São a Lei 11.445/2007, da Política Nacional de Saneamento, e a Lei 12.305/2010, da Política Nacional de Resíduos Sólidos. A formulação de planos municipais de saneamento e a meta de erradicar os lixões a céu aberto até 2014 são algumas das ações previstas nessas leis, que abrem melhor perspectiva para a universalização do saneamento no Brasil. 

Foto: Vieira Junior
Mas nada disso, avanços na legislação e novas tecnologias que proliferam a toda hora, será suficiente se não houver um reencantamento, um novo olhar do ser humano para os recursos naturais. Uma revolução cultural, reaproximando homem e natureza. 

Esse o sentido original daquelas ações, lá nos anos 70 e 80, que começaram como uma indignação existencial, espiritual. Com uma nova postura, quem sabe, será cristalizada a utopia embutida nos versos iniciais de “O Rio”, de Zeza Amaral e Keula Ribeiro, interpretada no Festival do SESC pelo próprio Zeza: “Cada rio que nasce/ É uma moda de viola da natureza...”  



*Este artigo foi veiculado na edição 69 (maio/2011) da revista Painel, da Unimep    


Reciclar os hábitos

                             LARISSA MOLINA
                                                 Estudante de jornalismo



Créditos: Renato Cardoso
    Muito se ouve comentar sobre a sustentabilidade, ou seja, retirar da natureza ou do meio em que se vive somente o necessário, assim, o meio ambiente terá tempo para se recuperar e continuar a oferecer a riqueza natural. No entanto, percebeu-se um pouco tarde a importância deste conceito. Em tempos que o consumismo é a engrenagem da sociedade, é improvável acabar com a produção de lixo. Fazem-no a todo tempo. Cabe, neste século aonde desastres ecológicos acontecem com freqüência, adotar atitudes simples que contribuem para o meio ambiente. Reciclar é o primeiro passo desta jornada.


Qual é a dificuldade em separar o próprio lixo? Aquele que elaborar a resposta mais convincente estará isento de contribuir com o meio ambiente. No entanto, acredite: será mais desgastante buscar a resposta do que separar recicláveis. Este trabalho é árduo sim, mas apenas para os catadores de reciclagem. Eles percorrem quilômetros de distância empurrando carrinhos repletos de resíduos. Neles está o recolher, e na população, deve estar o desejo de separar o lixo orgânico do lixo reciclável.

Existe ainda quem descrimina os catadores de reciclagem, muitos os consideram seres invisíveis. Não se deram conta de que, estes trabalhadores, são agentes indispensáveis para a conquista da sustentabilidade. Eles fazem falta para aqueles que se conscientizaram da importância de reciclar.

O planeta entrou em uma corrida não só contra o tempo, mas também contra a catástrofe. O jornalismo, neste contexto, deve se empenhar para não apenas informar, mas educar e transformar. O futuro começa com a informação e sua propagação está sob o cuidado de jornalistas.


*Este artigo foi veiculado na edição 69 (maio/2011) da revista Painel, da Unimep